sábado, 21 de abril de 2007

Definição do amor


"Amor é fogo que arde sem se ver
é ferida que dói e não se sente
é um contentamento descontente
é dor que desatina sem doer" (Camões)

Que o poeta de todos os poetas
me conceda boa estrela
que a estrela de todos os astros
me premeie na lapela
prémios de honor
prefiro os muitos
oferecidos pelas mãos do amor
coroando o amor
e os seus heterónimos
nem vão caber nos Jerónimos

Amores anónimos não há
e assim foi pela madrugada
mesmo que seja um "assim fosse"
vou nomear-te namorada
ninguém já soube o que é o amor
se o amor é aquilo que ninguém viu
uma cor que fugiu
e pairou serena e breve
no ar
(Pousa agora, borboleta na pena deste poeta:)

É uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá cor
é uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá na cor
mas é uma batalha perdida
que se trava com ardor
é uma cor que dá na vida
o amor
dor que desatina sem doer

Se devagar se vai ao longe
devagar te quero perto
mesmo que o que arde nunca cure
vou beijar-te a sol aberto
é já dos livros que o instante
se parece tanto com a eternidade
e que o amor na verdade
só se cansa de ti
se de ti mesmo te cansas

Mordidas mansas, emoções
suspiros, densos, afagares
liberto das definições
o amor define os seus lugares
ilhas desertas até ver
ver o sol, a chuva
o arco do corpo
arco-íris, corpo a corpo
cara a cara, cor a cor
incandescendo o olhar
(Pousa agora, borboleta na pena deste poeta:)

É uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá cor
é uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá na cor
mas é uma batalha perdida
que se trava com ardor
é uma cor que dá na vida
o amor
dor que desatina sem doer

E ao pôr o dedo nas feridas
que supunhámos curadas
provas de fogo atravessamos
no mar alto festejadas
não se controla o inesperado
nem se diz o indizível do amor
uma cor que fugiu
de um pano leve
e pairou serena e breve
no ar
(Pousa agora, borboleta na pena deste poeta:)

É uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá cor
é uma cor que dá na vida
o amor
é uma luz que dá na cor
mas é uma batalha perdida
que se trava com ardor
é uma cor que dá na vida
o amor
dor que desatina sem doer

Composição: Sérgio Godinho

3 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Este poesia do Sérgio Godinho é deliciosa.
Foi uma boa escolha que fizeste.
Beijos.

Isabel José António disse...

Cara Amiga Angela,

Depois de ultrapassarmos mais uma dificuldade impost pelo sistema dos blogues,
eis que aqui vim convidá-la a visitar-nos e deparo-me com este post sobre o amor. E logo com dois poemas ENORMES estética e poeticamente falando.

Respondo-lhe com este poema, que não sei ainda sobre o que vai versejar:

DE ONDE VEM O AMOR

Deixa que o amor te diga
Baixinho em teu coração
Que aquilo que a todos liga
É de uma outra dimensão

Sente que ele em tudo está
No mar, na terra, no ar
Num gesto em que algo se dá
Na ave que passa a voar

No Cosmos da galáxia espiralada,
No sangue, na estrutura de ADN
No Céu de uma noite estrelada
Na Grande Vida que é perene

E se parares para sentir e VER
E vires para além das evidências
Sentirás e começarás e saber:
O amor provém das transcenDências

Espero que goste.

Parabéns pelo bom gosto.

Todos os nossos blogues, com excepção do último, têm novos posts. Se os quiser visitar...

Um abraço

José António

suruka disse...

Sim papoilas
rubro do amor bailando ao vento

Bom o texto.